terça-feira, setembro 06, 2005

(Des)Unidade Nacional

Durante a semana passada por motivos de um pequeno problema de saúde tive de me deslocar ao serviço de atendimento de urgências do Centro de Saúde de Faro. Ao lá chegar, perto das 13h, fico á espera mais de 15 minutos, sem que se veja vivalma de funcionário, para poder preencher a minha ficha para poder ser atendido por um médico. Entretanto cansado de esperar e pensar como era ridicula aquela situação em que num serviço público em pleno dia não existia alguém para me atender decidi entrar dentro do serviço para ver se alguém me podia ajudar. Após uns minutos sem ver ninguém aparece uma médica á qual pergunto se não havia alguém que me atende-se visto que já estava á espera á mais de 15 minutos. Tudo isto num tom cordial. Recebo um raspanete da médica mal acabo de falar. A justificar-se que estavam 12 pessoas á minha frente e que tinha de esperar de qualquer maneira e que a funcionária (única) do atendimento tinha ido almoçar. Eu respondi dizendo que é uma questáo de principio haver alguém para atender as pessoas que chegam, esperasse eu o tempo que fosse necessário até ser atendido pelo médico. Ela replicou se queisesse que reclama-se no livro amarelo. Coisa que fiz de imediato. Ao preencher a reclamação pergunto o nome da médica ao que ela responde de um modo arrogante e intimadatório que era "a Dr. Ana Costa, CHEFE DE SERVIÇO". Nisto ainda me deu mais gozo preencher a ficha, pois este é um caso flagrante em que o serviço é um reflexo do seu chefe. Mas a coisa não ficou por aqui e a minha companheira que fora comigo dizia á Dr. Ana Costa que a sua colega (do atendimento) não lá estava e que era do nosso direito perguntar por alguém. A médica mal houve a palavra "colega" regorjita de imediato: "Colega!? Ela não é minha colega!". Eu então digo bem alto: "Pois claro é MÈDICA é superior aos outros!" e pergunto-lhe "mas não trabalha no mesmo local que a senhora do atendimento? e não é funcionária pública? E não são ambas pagas pelo estado?". A médica vira costas e nunca mais apareceu. Entretanto aparece a senhora do atendimento e pergunta-me o que tinha acontecido. Ao que eu respondi que a sua "colega a Dr. Ana Costa" tinha sido uma bela arrogante. De imediato a senhora do atendimento responde: "A Dr. não é minha colega, ela é médica"! Como é que Portugal alguma vez se vai orientar e sair deste lamaçal em que se encontra se este tipo de distinções e preconceitos estupidos entre profissões e cargos. Um país moderno é um país de gente igual e não de uns mais iguais que outros em que uns são filhos da puta e os outros filhos da mãe. Os mais instruidos pensam que vão poder sempre abusar dos mais ignorantes. Que mentalidade mais estupida e medieval!
Conclusão desta estória, que infelizmente não é ficção: Em Portugal as elites mais instruidas, informadas e conscientes agem de um modo profundamente elitista e ignorante e os menos instruidos acreditam e deixam-se intimidar por estes argumentozinhos mesquinhos e estupidos! Portugal precisa muito mais do que mudanças económicas, políticas e jucidicais. Portugal precisa é de uma mudança socio-psicologica profunda que destrua a cultura actual de mediocridade, ignorância e estupidez que grassa por todo lado. Mas isto é para percebermos que estas mudanças só terão lugar se Portugal sair de vez da Idade Média dos feudos, que nunca deixou de existir, e realmente construirmos um pais livre e equalitário.

2 comentários:

xipsocial disse...

O retrato é bastante triste, e a tua atitude foi exemplar.
Certos Portugueses julgam que por terem instrução e formação superior, têm também um estatuto sócio-profissional acima de outros. Este é um erro muito grave que revela a inexistente formação cívica desses "iluminados". Pois eu, coloco esses com falta de civismo, um patamar abaixo do estatuto social em que se inserem aqueles que dominam a boa educação, a tolerância e a fraternidade. Não respeito títulos trogloditas. Eles são também causa do retardado desenvolvimento sócio-cultural Português.

Um abraço.

NeuroGlider disse...

Caro Xipsocial
Eu diria ainda mais. Estas doutas personalidades que deveriam ser o motor da mudança da sociedade são o mais forte travão ao desenvolvimento em Portugal.
Obrigado pelo comentário.
Um abraço