domingo, abril 24, 2005

Transgénicos

No Blogue de Esquerda encontrei uma posta acerca da autorização de produção de produtos transgénicos em Portugal e da lei que a semana passada foi assinada pelo governo a dar a dita autorização. Tendo eu formação em biotecnologia não pude de deixar de comentar esta notícia e de decidir aprofundar o tema um pouco mais aqui. Assim escrevi:

"O problema dos transgénicos nem é propriamente o seu perigo para a saúde do homem por consumo directo de produtos alimentares. É mais o seu impacto nos ecossistemas e em como determinados genes podem passar de, por exemplo, de plantas para bactérias (transferência horizontal de informação genómica). Isto pode não significar nada. Mas se pensarmos que uma das maiores utilidades dos transgénicos irá ser a produção de substâncias medicamentosas (antibióticos, vacinas e hormonas) podemos estar a transferir para o ambiente genes ou informação genómica com um potencial de actividade biológica muito perigoso.
Não condeno a biotecnologia mas sei que sabe-se ainda muito pouco sobre sistemas biológicos para se aplicar este tipo de soluções. Se os políticos dos países desenvolvidos pensassem mais em sair do proteccionismo e subsidiação da agricultura e atacassem a especulação do mercado e a destruição de produtos agricolas para a manutenção de preços elevados nada destas soluções seriam necessárias."

Quero aqui deixar o aviso que não estou contra a biotecnologia mas que quanto mais estudo a biologia me apercebo quanto ignorante somos sobre a Natureza. Não temos um conhecimento integral dos sistemas biológicos suficiente para podermos introduzir estes avanços ainda! Mas noutros campos a biotecnologia já nos está a servir bastante bem e conduzindo a processos industriais bem mais limpos e sustentáveis para o ambiente. O que quero alertar é para os passos de gigante que as companhias farmacêuticas querem dar. Ou seja, a produção de uma miriade de substâncias e compostos com alta actividade biológica em culturas ao ar livre. Isto é muito perigoso. Muitas destas novas drogas são hormonas, anticorpos e pequenas proteinas inibidoras de processos biosintéticos que apresentam duas perigosidades. Uma directa pela difusão destas substâncias muito raras e activas no ambiente e outra indirecta, a livre circulação de material genómico no ambiente que codifica estas proteinas com alto teor de actividade biológica. No Reino Unido devido a um estudo que saiu este Fevereiro em que se apontava a alta probabilidade de o material genético exterior á espécie que o produz (e que torna esta última transgénica) poder passar facilmente para bactérias do solo conduziu á interdição da cultura de transgénicos. Esta é a opção certa e de bom senso. Precisamos de mais provas e mais garantias porque a biotecnologia tem um enorme potencial para podermos construir um futuro sustentável e melhor.

Acima de tudo temos é de ter a subverção do mercado para que não se especule e desperdice tanto em função do lucro!

2 comentários:

augustoM disse...

De transgénicos não percebo nada. A minha ideia do assunto é que o transgénico sofreu uma manipulação genética, procurando com isso obter características que proporcionem a aceleração do seu desenvolvimento. Também se fala no texto em obter produtos com características específicas para a produção de medicamentos. Isto pode ser muito perigoso.
Pelas explicações que são feitas dos riscos que se correm, valerá a pena continuar com uso desses produtos?

O Lutero também não era flor que se cheire.
Um abraço e bom fim de semana. Augusto

NeuroGlider disse...

Caro Augusto
Um transgénico é qualquer ser vivo (bactéria, planta ou animal) que possuí um gene (informação genética) de outro organismo vivo. O que aqui falo no texto é de milho a produzir antibióticos, anticorpos(vacinas) ou outra qualquer substancia de origem biológica e de interesse farmacológico. Actualmente as plantas de transgénicas são transformadas com um gene de uma toxina de bactéria que destroí o sistema digestivo dos insectos. No entanto no fim da década de 90 foi descoberto que os insectos se adaptaram e imunizaram contra essa toxina porque as plantas produziam tanto dela que exudava para o solo. Não só esses campos ficaram todos contaminados pela toxina como o seu excesso no ambiente foi a causa da adaptação do seu presumivel alvo.
Isto aconteceu com insectos imagine agora que se tava a produzir por transgénicos uma substância para atacar a tuberculose mas que os seus níveis no ambiente se tornavam tal que mesmo antes de se começar a utilizar já tinhamos feito aparecer no ambiente bactérias da tuberculose resistentes?! isto é uma situação hipotética mas que não pode ser descurada visto que tem exactamente a mesma lógica da toxina da bactéria que já aconteceu.
É por isto que recomendo a cautela!

E em relação ao Lutero tem toda a razão basta olhar para a "bela" ética capitalista que ele nos deixou. Este assunto dos transgénicos serem realmente necessários resulta directamente dessa ética capitalista.
Cumprimentos